Embu das Artes x Embu das Outlets: artistas realizam por si a primeira exposição na cidade.


         Nos anos 60 foi fundada a estância turística de Embu das Artes. Cidade localizada na Grande São Paulo formada por Jesuítas, de lá para cá várias histórias, lendas, tradições e a simpatia de acolher hippies, poetas e diversos artistas do mundo. Nas últimas décadas, a cidade perdeu parte da sua essência, artistas foram ficando velhos, parte se foram por conta da idade, outros vítima do alcoolismo, alguns de infarto e desgosto, pois a província das artes foi tomada pelo comércio e a indústria.     
Exposição, BOMFIM alegria SEMFIM - A grande festa de estar vivo.         

Obras de Aurino Bonfim. Quadros com "Feliz Cidade"

            Em homenagem a dez anos da morte de Aurino Bomfim (Artista do Rio de Janeiro, morador do Embu que testemunhou e fez parte da transformação artística e cultural da cidade, que tem "das Artes" em seu nome). Artistas veteranos de Embu das Artes se unem, organizam e fazem por si só a primeira exposição de artistas locais com ligação ao Aurino e a cidade de Embu das Artes, sem patrocínio e com rejeição de ajuda pública. Para Aurino, artista que foi dono de bar e boêmio, viver é (era) uma grande festa e no dia 21 de outubro a exposição começou com coquetel sem "menisquência", para convidados e quem passava pelo local.  Na abertura dos trabalhos, sua homenagem contou com vários brindes e bate-papo, sorrisos e abraços de artistas locais com  cachaça de Cambuci e hidromel, uma cozinha com caldos de mocotó e escondidinho (Aurino na cozinha, essas eram especialidades do artista), com apresentações musicais de Vitor da Trindade, Comunidade Jongo de Embu das Artes e muito Coco de Roda com o grupo do Teatro Solano, a produção da Código Nóize tomou cachaças, fumou cigarrinhos artesanais e conversou com alguns dos artistas e organizadores do evento.. 

    

Banca de Cachaça de Cambuci e Hidromel .
         Primeiro artista a bater o papo e tomar uma com a nossa revista foi o Miguel Angel Cabrera. Ourives, escultor em bronze, cobre e latão, com uma breja na mão e uma cachaça na outra ele fala: “A exposição é uma conquista, produzido pela união dos artistas mais singulares da região para fomentar, incentivar, homenagear o amigo e reanimar a chama de cultura artesã da cidade”. Miguel tem 40 anos de experiência com artes-plásticas, vive uma vida anarquista, já foi nômade, rodou e trabalhou em diversos lugares da América Latina, conta que quando chegou em Embu das Artes no final dos anos 80, o turismo e a busca pela arte era bem maior que os dias atuais, contou que sua viajem era pra ser de passagem do Pernambuco a Argentina, mas chegou conhecendo grandes artistas como: Aurino, família Trindade e fez grandes amigos, viveu a boemia, teve filhos e nunca mais partiu para outro lugar ou voltou para sua terra natal, Bariloche, na Argentina.   
             A Prefeitura de Embu das Artes não cria exposições e não incentiva os artesões locais, mesmo sendo "estância turística" e recebendo do governo estadual verbas específicas para incentivo ao turismo. Nos últimos anos, Embu das Artes teve apoio e crescimento frenético de construções de Outlets e Polos Industriais, esses que vem empesteando toda cidade e dando o apelido de Embu das Outlets.
Maternidade - Agenov (1965 - 2015)
           Após o bate papo com Miguel, já com algumas cervejas e um chá na mente, fui conhecer melhor as obras que estão expostas no Centro Cultural Mestre Assis. Impressionado com tantas peças bonitas, quadros com psicodelia, uma tonelada de excentricidade de cada artista, muita coisa ligada a cultura afro, orixás, cultura primitiva e um pastor alemão que não tirava os olhos de mim, dava para ver e sentir que diversos quadros e esculturas foram desenvolvidos por artesões nada careta. Pensei bem na frase de Vitor Hugo: " Todo o grande artista molda a arte à sua imagem." e é isso.   
            A entrada é livre, conheci obras e fiz todo percurso tomando cerveja, o que faz do Embu das Artes ser diferente, ter uma exposição diferente, sem censura e fez acreditar ainda mais, que ali é terra dos loucos.      
         
Após brisar e fotografar obras, pergunto ao músico Vitor da Trindade se ele já havia visto exposições com tantos artistas da região e ele disse: "Já participei de grandes reuniões feito essa no passado, mas não tem há pelo menos a idade do Erich". Erich Zimmerlli é um artista e DJ, nômade, de trinta poucos anos que estava ao lado.  Entre várias viagens pelo mundo, Vitor mora em Embu das Artes há mais de 50 anos e é neto do grande poeta, produtor artístico da cultura negra e tradições afro-descendentes, Solano Trindade.  



Raquel Zaicaner
         Na "saideira", senti na pele a emoção quando conversei com a organizadora e companheira do artista homenageado, a Raquel Zaicaner. Ela, super emocionada contou que unir artistas do mundo e de Embu das Artes ligado ao marido dela, foi uma imensa satisfação, que o próprio Aurino estava presente e que cada obra que está ali carrega um pouco de amor dos tempos passados.   
 



Direita Mario C. Ramos

             Já na "caideira", eu também emocionado, termino a matéria bêbado tomando uma com o escultor Mario C. Ramos. Com olhos cheio de lágrima e já indo embora ele dá a última palavrinha: "Essa exposição é a prova que artesões do Embu ainda vive, resiste e que isso vai alavancar mais a união para exibições de artistas de verdade do Embu das Artes."





            A exposição vai rolar até quinta-feira, dia 10 de novembro e tem programação musical, sarau, teatro e dança. Conta com obras de 150 artistas ligados ao Aurino Bomfim e Embu das Artes, sendo que mais de 40 são artistas e poetas mortos.  A entrada é livre, para todas crenças e idades.         

Local: Centro Cultural Mestre Assis - Largo 21 de abril, 29 - Centro Histórico - Embu das Artes.




O Pastor Alemão - Phillipe Giacobini

Dragão - Miguel Cabrera




















Por Rafael Pajé
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